domingo, 19 de abril de 2009

Tocando Blues




E já com os convites na mão do show do Dr Sin, ele me olhou e perguntou se eu tinha certeza que era ali que eu queria estar, ele me conhecia melhor do que eu mesma em alguns momentos. Com certeza ali não seria o lugar, mas por diversas vezes eu estive onde meu coração não queria estar e no entanto insistia em permanecer. Ele desistiu do show por mim...
Ele é um daqueles amigos de anos da faculdade, uma pessoa bem especial do qual eu não o via por uns bons anos. Ele devia ter 20 anos quando nos conhecemos, cabeludo, metido a roqueiro e completamente perdido no mundo da publicidade. Eu no auge dos meus 18, patricinha, egocêntrica e convicta em ser psicóloga. Riamos das nossas diferenças.
Acabamos por ficar no jardim da casa dele tomando vinho, a noite tava fria, mas a cia estava bacana, ele sabia que eu precisava curtir minha fossa, mas pra isso ele precisava me tirar daquele momento introspectivo, começou a tocar um blues na gaita pra me chamar novamente pro meu mundo. Cantei Norah Jones enquanto ele tocava e meus olhos encheram de lágrimas, ele sem mesmo me olhar parou de tocar e apenas disse: "É foda"... eu no momento achei engraçado, porque somente ele, de uma forma tão publicitária, poderia dizer uma coisa tão verdadeira em tão poucas palavras, gosto desse jeito debochado dele de falar porque combina com aquele cabelo quase penteado dele. Eu sorri e concordei, era foda mesmo, curtir fossa com um amigo que você não via a 4 anos, só podia ser muito deprimente mesmo, estar longe de quem ama por não ter condições de ficar junto, é a coisa mais deprimente e não aceitável desse mundo, muito, muito, muito foda. E ele já oportunista encaixou um clichê: "isso passa" e voltou a tocar Norah Jones como se o mundo continuasse girando. E heeeey, ele tinha toda a razão, não parou de rodar e certamente passaria, e talvez essa tristeza pudesse, com o tempo, ser transformada em um desses blues gostosos de ouvir e que dá uma saudade de coisas boas.
Talvez fosse simples mesmo, como uma gaita que você tira do bolso e sai tocando por aí.
Eu o amo e isso é simples, complexo foi o que fizeram desse amor. Complexo foi o que deixamos que fizessem com ele... mas tudo bem, estamos só aprendendo a tocar e gaita não é algo que se aprende do dia pra noite e muito menos um desses blues gostosos de ouvir e que dá saudades de coisas boas... vai chegar o dia em que iremos tocar sem desafinar e sem incomodar ninguém, porque o nosso blues vai ser o mais perfeito de todos, só espero que o nosso som não encante outras pessoas que acabarão sendo atraídas feito marinheiros pelo canto da sereia e se apaixonam perdidamente... mas é um risco que corremos com o tempo, mas até lá?
Até lá eu vou treinando um blues só nosso enquanto o mundo não pára de girar, de forma simples esperando que todas aquelas suas frases se concretizem e você não deixe de me amar e de pensar em mim como o combinado.
Ainda tocarei um simples blues só nosso...

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