sábado, 30 de abril de 2011

Pare o mundo! Eu preciso descer...



"Queria que algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. Eu queria que existisse um canto do mundo que nunca me dissesse "hey, Li, você está fazendo tudo errado" e que me deixasse ser assim e apenas me deixasse ficar quietinha e quente quando o mundo resolvesse me magoar, porque eu sou briguenta, mas sou mais sensível que maria-mole na frigideira.
Eu queria ir para um planeta onde não existisse tempo de beijar e tempo de enlouquecer. E eu pudesse ir agora no seu mundo e te beijar até enjoar de você. E eu pudesse, de repente, gritar bem alto, porque me irrita esses milhares de sons tecnológicos que seu telefone faz para mostrar que meio mundo te procura enquanto eu não posso te procurar, porque a "cartilha da vovó que ensina como casar" dizia que a mulher nunca pode procurar o homem se não quiser ser usada por ele. Eu queria mandar para aquele lugar a cartilha da vovó. E queria conseguir tirar essa voz da minha mãe da cabeça, dizendo "Esqueça, ele não te pertence...".
Eu sei que sou exatamente o que 98% dos homens não gosta ou não sabe gostar. Eu tenho personalidade, falo o que penso, abro as portas da minha casa, da minha vida, da minha alma, dos meus medos. Basta eu ver um sinal de luz recíproca no final do túnel que mando minhas zilhões de luzes e cego todo o mundo. Sou demais. Sufocante. Ninguém entende nada. E eles adoram uma sonsa. Adoram. E sempre acabam namorando com elas.
Mas dane-se. Um dia um louco, direto do planeta dos 2% de homens, vai aparecer. E que se dane a natureza gritando no meu ouvido que não posso fazer essas coisas. Que a boa fêmea sabe esperar nove meses, portanto deve saber esperar uma ligação ou um sinal de "tudo bem, agora pode ser recíproco porque eu também te quero". Eu não sei esperar nada. E a natureza gritando no meu ouvido que então, já que sou birrenta, vou ficar sem nada mesmo.
Porque hoje eu sei que é preciso aprender a viver, atiram a gente nesse mundo, nosso coração sente um monte de coisa desordenada, nosso cérebro pensa um monte de absurdo. E como se não bastasse a gente ainda precisa ser superequilibrada para ganhar alguma coisa da vida. Como se só por estar aqui, aturando tanta maluquice, a gente já não devesse ganhar aí um desconto para também ser louco de vez em quando. Quem é essa natureza maluca, quem é esse mundo maluco? Quem são esses doidos que exigem tanta certeza e tanta "finesse" e tanta postura da gente?
E eu queria te beijar até enjoar. Porque eu só sei curar uma vontade de me entorpecer de alguém quando sugo a pessoa até a última gota. O problema é que, nesse mundo sem graça com celulares que apitam e mensagens no Messenger que apitam e policiais mentais que apitam "hey, Li, segura a onda, não deixe ele perceber que pode comandar seu coração mole", ninguém mais sabe nem sugar e nem ser sugado até a última gota. Fica uma droga de um joguinho superficial de trocas superficiais. E ai de quem resolva sair disso. Vai ser tachado de louco de pedra. Maluco. E as meninas sonsas se dando bem, e eu dormindo abraçada com o travesseiro sem dono da cama de casal, com olhos vermelhos e o coração mais pesado que uma rocha.
Queria que ao menos algum canto do mundo me acolhesse. E me abraçasse e dissesse que tudo bem, tudo bem de vez em quando eu perder assim a razão ou o equilíbrio. E repetir e repetir e repetir o erro. E jurar que da próxima vez eu serei normal e escolher alguém que possa me querer. E jurar que da próxima vez eu obedecerei a natureza, minha mãe, a cartilha da vovó ou as meninas sonsas. E virar a rainha dos 98% de homens que não sabem o que fazer com uma pessoa que nem eu. E depois chutar todos eles, porque no fundo tô pouco me lixando pra essa maioria idiota.
Pode até ser meio solitário correr contra a maré, mas como é gostoso olhar a multidão do outro lado e enxergar todo mundo pequenininho, porque já cansei de me ver assim...

Nenhum comentário: